segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Lembranças...


Ela chegou em casa, jogou a bolsa em cima do sofá e olhou a secretária eletrônica

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Faziam 2 semanas que o evitava. Não retornar as últimas ligações aparentemente deu certo. Era uma sexta feira e nenhum sinal de vida dele.

"I don't know what you do but you do it well, I'm under your spell"

A voz da Duffy ecoou pelo apartamento. Não precisava retirar o telefone da bolsa, esse toque era exclusivo dele. A frase é ouvida 1...2...3 vezes. Para. Ela pega o celular apenas para olhar o nome no visor, não consegue conter um sorriso.
Arremessa o telefone em cima da cama enquanto ainda estava com a tela iluminada. Não ligaria. Estava firme em sua posição. Definitivamente não queria mais.

Foi ate o banheiro e começou a encher a banheira. Enquanto a água cai, colocou algumas musicas para tocar. "Cantaloop" encheu o apartamento e ela voltou ao banheiro dançando sozinha, enquanto se desfazia das ultimas peças de roupa. Entrou na banheira nos últimos toques do jazz dançante.

No silêncio entre uma música e outra pode ouvir, novamente, o toque do celular. A voz rouca do toque se misturou com a mesma voz que saia da caixa de som. "Mercy" transformava a voz da galesa em um hit animado, que por mais contagiante que fosse, não escondia o tom melancólico. A garota sorriu, a música representava bem o momento de sua vida.

Deitou a cabeça para a água lhe tampar os ouvidos, tornando seus pensamentos ainda mais claro.
Desculpas... Ela esperando na frente do cinema... mais desculpas... semanas de sumiço inexplicado... desculpas... briga... crise de ciumes... um beijo roubado durante a crise... a mão passando pelo cabelo... o cheiro dele... as mão se entrelaçando... beijos que descem ate o pescoço... mordida na orelha... as pernas envolvendo a cintura... a respiração rápida dele... o gemido contido dela...

A frase solta de "Mercy" ecoa pelo apartamento.
Passos molhados pelo corredor

"- Alô."

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

13:32


Não trabalho nas tardes de terça e como tinha que estudar não pude voltar p/ casa. Fiquei com 2 opções:
1 - Ir p/ a faculdade, me trancar na biblioteca e só sair de lá quando fosse uma expert em imunologia
2 - Encontrar algum lugar alternativo para estudar.

Optei pelo alternativo.

O lugar escolhido: Jardim Botânico. Nunca havia andado nos jardins de lá, oq é vergonhoso p/ uma futura bióloga que gosta de botânica.

Entrei no jardim de forma curiosa. São Pedro queria estragar os meus planos mandando uma garoinha sem vergonha para me intimidar. Como não me intimido facilmente continuei firme no meu propósito.
Passei pelas palmeiras da entrada e por outras diversas árvores mais ao fundo. Escolhi uma das escadas de pedra perto do portal antigo e das estufas do orquidário  para espalhar as minhas coisas e começar os estudos.
Mas logo fui interrompida por uma dupla de patos que pousaram no lago a minha frente chamando minha atenção. Parei para observá-los

Dos patos, passei para o ambiente. A calma do lugar transformava a minha vontade de ligar o mp3 em uma heresia. Resolvi escutar apenas o som dos pássaros, de vários deles, provando que em São Paulo há mais do que pombas e pardais.
Um sabiá laranjeira pousou a menos de 2m e pareceu não me notar, algo raro para um bicho tão desconfiado.
Uma dupla de borboletas passam por mim como se estivessem dançando no ar.
A única coisa que me lembrou que estava em uma metrópole foi o barulho de um avião. Mas da mesma forma que ele veio, ele se foi, me deixando curtir o som das cigarras e das aves.

A brisa fica fria trazendo gotas da garoa que começa a apertar. Volto a observar os patos que agora estão na borda do lago se secando de forma engraçada. Olham pra mim como se me desafiassem a ver quem agüenta mais tempo na garoa.

Ok, patos. Vocês venceram. Vou para debaixo da oliveira

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O erro...

"You know that it would be untrue
You know that I would be a lier
If I was to say to you
Girl, you couldn't get much higher
Come on baby, light my fire"
Light my fire - The doors


Ela abriu os olhos, consultou o relógio em seu pulso.
5:15 am
“MERDA!”
Levantou de forma suave e silenciosa, voltou os olhos para se certificar que ele ainda dormia.

Pegava as peças espalhadas pelo chão tentando recordar como tudo aconteceu. Não era a primeira, mas definitivamente era a última. Não podia acreditar que tinha caído novamente na conversa dele.

Já estava pronta.

Desceu de foma silenciosa a escada, pegou a chave, respirou fundo

“Mas já vai?!”

Olhou para trás e lá estava ele, descabelado com a camisa aberta jogada por cima do corpo

“Está tarde” – respondeu não muito confiante.

“Tarde? São 5:25!”

“Mas você sabe que eu não poderia ter ficado ou melhor, nem estado por aqui”

Ele coçou a nuca de forma envergonhada. “É eu sei. Mas não ia nem me dizer tchau?!”

Ela respirou fundo, tentando manter o controle. “É que você dormia tão gostoso, não quis acordar. Ia jogar a chave pela janela” - disse movimentando a chave fazendo barulho de sino

“Mas agora estou de pé. Não mereço nem um beijo de despedida?”

Ela simplesmente olhou para ele. Sabia que não podia. Não podiam ficar a menos de 2 metros sem que se atirarem nos braços um do outro. 
Ficou em silencio por alguns segundos.
“Tudo bem, então eu vou buscar o meu beijo”

Ele desceu mantendo seus olhos nos dela, fazendo com que ela não pudesse se mexer. O coração da garota batia no ritmo dos passos dele pela escada.
Ele chegou perto, a segurou pela cintura e lhe deu um beijo profundo.
A garota abriu os olhos, consultou o relógio em seu pulso.
7:35
am
“MERDA!!!”

segunda-feira, 10 de março de 2008

Bailarina

" Confessando bem
Todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem um primeiro namorado
Só a bailarina que não tem"
Ciranda Da Bailarina - Penélope


Era um circo. Distante de tudo. Nele havia um bailarina. Não que ela fosse a estrela da casa, talvez tivesse sido durante algumas semanas, mas sua dança simplesmente não encantavam mais.
Porem ela parecia não ligar, sempre se apresentava. Linda, de rosa, roxo, amarelo e as vezes ate vermelho, com paetês, tutu, sapatilhas sempre bem limpas e com fita de cetim.
Quando era chamada ao palco se sentia a dona do picadeiro, talvez sonhasse que estava em alguma grande apresentação, pois dava tudo de si. Saltava, girava e, as vezes, com olhares mais atentos poderiam notar que ate flutuava. Mas ninguém notava. Pois afinal era apenas a bailarina. Sempre da mesma forma, sempre a mesma dança e sempre estaria ali.

Só o que não sabiam é que em seu trailer era visitado todos os dias por uma belo pássaro roxo-azulado. Ele lhe contava sobre o mundo.
Dizia que havia mais do que aquela lona, que havia mais cheiros do que os da pipoca e amendoim e que em algum lugar nesse mundo alguém poderia se encantar com seus giros.
Mas ela não queria estar em outro lugar. Talvez tivesse medo ou quem sabe alguma coisa em seu interior a mantinha debaixo daquela lona, girando e dançando para aquele publico que a ignorava.

Ate que um dia ela não apareceu, havia sumido de seu trailer.
Deixou tudo para trás. Roupas, sapatos, sapatilhas, paetês e principalmente a lona.
O publico especulou onde teria ido a bailarina. Uns diziam que havia sido raptada, outros que partirá com um homem rico, alguns, mais fantasiosos, juravam que ela tinha voado em companhia de um grande pássaro roxo-azulado.
Mas nunca souberam a verdade.
Somente lamentavam como sentiam falta da dança da bela bailarina.