Tema de hoje: Anel da Morte ~
Ela tinha 17 anos quando disse sim. Seus pais tentaram dissuadi-la, mas isso era impossível. Ela o amava e não podia esperar nem mais 1 dia, quanto mais 1 ano
Ela o achava brilhante, estava fascinada por tudo que vinha dele, e ele a amava muito também.
Amava como ela era independente.
Amava como tinha um sorriso fácil e cativante.
Amava as suas curvas bem desenhadas.
Amava sua inteligência.
Amava seu rosto de princesa.
E principalmente amava a determinação ela tinha em seus sonhos e planos.
Eles se uniram em uma cerimônia pequena, na presença de poucos parentes e apenas 3 amigos.
Tiveram uma lua de mel rápida pois ele tinha que voltar rápido para o seu trabalho, era um gerente de produção de uma multinacional, ela sentia orgulho dele ser tão novo e já bem estabelecido no emprego, e ele prometeu que ela nunca precisaria trabalhar, e isso matou sua independência, mas ela não ligava, pois ela o amava.
Com o passar dos meses ele foi notando que todos na vizinhança a conhecia, ela tinha um jeito cativante e todos a adoravam. A senhora da quitanda já a chamava por nome, a costureira fazia fiado, o padeiro sempre revelava quais os pães estavam realmente fresquinhos, o senhor que vendia queijo de porta em porta já deixava amostras de queijos, e todos os banqueiros da feira a conheciam e começou a acumular tanto "o" e “os” que o ciúmes dele cresceu. Cresceu a ponto de quase o enlouquecer. Qualquer um que a cumprimentava no bairro era o suficiente para ele ficar bravo. Tinha explosões de ciúmes. Começou a não deixa-la sair de casa. Ficava bravo quando, ate mesmo, amigas iam visita-la. Ligava de minuto em minuto em seu celular quando saia. Ela até deu razão pra ele e, por isso, matou seu riso fácil, mas ela não ligava pois ela o amava.
Tiveram 3 filhos, até ele conseguir ter o menino que sempre sonhou, e isso matou suas curvas, mas ela não ligava pois estava muito feliz.
As amigas se afastaram com o tempo e por causa do ciúmes dele. Ela começou a não ter muito com quem conversar a não ser com as crianças. Se prendeu em novelas e programas de fofocas. Não via jornal pois a realidade lá fora só a afetava quando aumentava o preço do tomate. Não tinha mais a rapidez nas respostas, o conhecimento sobre o mundo e seus assuntos começaram a ficar enfadonhos. Ele começou a acha-la burra e, com isso, matou sua inteligência, mas ela não ligava.
Os anos se passaram e as rugas marcaram e mataram seu rosto de princesa, mas ela não tinha mais vaidade e então nem se importou.
E depois de todos esses anos ela não tinha mais sonhos, não desejava mais nada. Perdeu os objetivos e a alegria que brilhava em seus olhos. Viu os anos passar, os filhos crescer, o marido com outras e se tornou apenas uma sombra do que era e, apesar viva, ela estava morta.
2 comentários:
Um relato com começo, meio e fim. Achei muito bem fluida a narração. Gostei do ritmo. Curta, porém completa. Fiquei triste por ela, que foi morrendo aos poucos. E no decorrer da vida, ela foi deixando com que tudo que ela tinha fosse tirado aos poucos... Adoro como você escreve! me dá vontade de desenhar em quadrinhos.
que intenso!
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