“Tengo un son repleto de ritmos y sentimientos…
Se te mete dentro como lo hace mi guitarra…
Como primavera lanza flores en tus alas…
Sal para la buena… ¡y te llenará de ganas!”
Hay un son - Orishas
Nunca gostei muito do calor, mas considero esse tempo uma ode à vida desregrada, perde-se o sono e a fome, bebidas geladas, principalmente as alcoólicas, se tornam mais convidativas, a preguiça toma conta do dia inteiro e as noites são deliciosas insistindo para ficarmos sempre mais um pouco a luz da lua.
E foi numa noite quente de primavera que eu o conheci.
Entrei em um boteco bem velho, daqueles que a poeira e sujeira nos pisos podem contar a historia do lugar desde a inauguração, não que este seja um local que eu frequentaria, mas numa noite quente onde os pés se recusam a dirigirem-se para a casa, qualquer porta aberta parece ser um lugar melhor.
Ao entrar encarei um grupo pequeno porem animado de pessoas, elas já estavam familiarizadas com o lugar e chamavam o garçom/balconista/dono pelo nome e algumas das garotas ate por um apelido carinhoso. Cheguei de mansinho tentando me mimetizar com a parede, fui para um canto escuro perto do balcão esperando ser atendida. Estava absorta em meus pensamentos, olhando para os quadros velhos pendurados próximos de onde estava.
“Se ficar por aqui nunca será atendida”
Olhei para o lado sobressaltada e lá estava ele, não era bonito mas tinha o charme que todo homem boêmio tem. Cabelo desajeitado, barba rala e um cheiro de álcool e cigarro. “sente-se lá com a gente. Somos a única mesa do lugar mesmo.” Ele sorriu com o canto da boca. Tentei balbuciar algum protesto delicado, mas ele já tinha colocado um copo cheio de cerveja na minha mão e voltado para a mesa olhando pra trás de forma convidativa.
Me dirigi ao lugar num misto de contrariedade e vergonha, quando estava me aproximando da mesa fui chamada por um dos rapazes para tomar partido em uma discussão que ele travava com o dono do bar “Vale ou não vale roubar no poker” meio em duvida sobre o que responder balbuciei “Se ninguém perceber...” foi mais que o suficiente para explodir a mesa em gargalhadas e fazer com que o velho levantasse contrariado resmungando algo como ser esse o motivo de não jogar com os jovens. Sentei na cadeira que ele deixou vaga e só me lembro da conversa ter sido fácil com eles.
Não me lembro de ter me apresentado e nem de ter perguntado por nomes, isso não era importante e cada garrafa de cerveja nos distanciava mais dessas formalidades.
As pessoas foram indo pouco a pouco, com o passar das horas, ate que, quase com o sol nascendo, restavam na mesa apenas eu, o dono do bar, o boêmio e uma garota que reclamava de sono.
“Bem, acho que já esta na hora de ir” falei ao mesmo tempo em que levantava de forma desastrada derrubando alguns copos pela mesa.
“Tem certeza que consegue ir sozinha?” ele me olhava com um sorriso debochado por ver a forma ineficiente que eu tentava ficar de pé.
“Claro!”.
Ele apenas sorriu balançando a cabeça. “Se vai, vamos todos que o seu Osiras já quer ir pra casa dormir, né?!”. O velho balbuciou palavras gentis, porem claramente falsas fazendo com que nós três ríssemos da tentativa frustrada dele em ser educado.
“Espera só um minuto. Vou ao banheiro”, fui trombando em algumas cadeiras que estavam na minha frente ate conseguir chegar ao corredor que dava acesso aos banheiros.
Não posso calcular o quanto fiquei lá dentro, mas sei que foi tempo suficiente para me enroscar com a torneira que se recusava a ficar fechada.
Quando finalmente consegui sair me deparei com o rapaz e em meio a um sorriso disse:
“Demorei tanto assim que veio me buscar...” porem antes que eu pudesse terminar a frase ele me agarrou colando sua boca na minha e me grudou na parede.
Meu coração disparou e só consegui passar minhas mãos pelos seus cabelos desarrumando-os ainda mais e retribuir ao beijo na forma mais intensa possível.
Não sei se foi a sensação do tempo distorcida pelo álcool ou se realmente foi algo rápido, mas quando consegui voltar a respirar e focar o olhar ele já estava na saída do corredor olhando para mim com um sorriso malicioso.
Respirei fundo e caminhei em direção a porta ainda mais cambaleante que antes, o rapaz estava acordando a moça que cochilou em cima da mesa. Saímos os 3 ao mesmo tempo do bar ajudando o seu Osiras a fechá-lo. O sol já despontava seus primeiros raios quando me despedi do boêmio e da garota empoleirada em seu braço, que demorei para perceber que era sua namorada.
Tomamos rumos opostos e cheguei em casa ainda com a briga interna de ter gostado do beijo e querer mais... muito mais, e a consciência pesada por saber que ele era comprometido.
Mas agora confesso que o peso na consciência não durou por muito tempo, afinal nada como uma noite quente e um boêmio cachorro para fazer com que eu mande as favas a “moral e os bons costumes”.
Um comentário:
De ao corpo o que ele quer ...
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