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O velho elevador abriu as portas no 8º andar, a garota saiu e caminhou ate um apartamento. Era pequeno, de apenas 1 dormitório, mas agora se sentia um pouco mais ela. A volta foi como se estivesse em outro corpo, sentia como se aquilo não lhe pertensesse mais. Fitou-se pelo espelho da sala, mas logo virou o rosto. Sentiu um asco quase insuportável.
Se abraçou como se tentasse se proteger de algo invisível. Tentou se proteger dela mesma. A vontade de chorar novamente aparecer "Seja forte, Adriana. Seja forte!" dizia para si mesma.
Foi ate o banheiro e ligou o chuveiro. Talvez precisasse tomar um banho para tirar todo esse cheiro, para ser mais Dri e menos Sabrina.
Sentiu a água quente bater em seus ombros. Não se mexeu, só sentiu a água correr. Não estava com coragem de encostar no próprio corpo.
A visão dele abrindo a porta do carro e a olhando lhe surgiu na memória.
Começou a se esfregar
Sentia nojo daquilo. Nojo dele. Nojo dela.
E todo o quadro lhe fez na mente.
Aqueles dedos grossos passando por sua coxa, o cheiro de cigarro velho, os cabelos grisalhos já ralos, o olhar, o dinheiro arremessado aos lençóis, os falsos sorrisos, os falsos gemidos....
Se esfregava mais forte. Não queria apenas tirar o cheiro, queria sumir com aquelas lembranças.
Ouviu o barulho na porta. Desligou o chuveiro
"Raquel?!"
"Sim, Dri. Sou eu."
Encostou a cabeça na parede mesmo com o chuveiro desligado. Rezava para Deus perdoar o seu pecado e pedia que ele fizesse o celular não tocar mais.
Mas no mesmo minuto ouvi o som estridente de uma musiquinha quase alegre.
"Alô, sim sim. Pode falar. Claro. Me passe o endereço. Tá, passarei para ela. Pode confiar, você não vai se arrepender"
Ouvi passos e uma batida na porta
"Dri, mais um. E esse parece dos grandes. Marcou como você em um lugar super chique"
Adriana saiu do banho como um bichinho assustado, ao pousar os olhos sobre ela Raquel pareceu entender. Tirou um pacotinho da bolsa e jogou para a garota.
"Sei que você dirá não agora, mas confie em mim, só assim vai conseguir sair desse apartamento hoje"
Eram 4:30 quando Adriana voltou para o apartamente aquela noite. O nariz ainda ardia um pouco e a euforia acabará. Ela abriu a porta, não ligou a luz, só encostou no canto da parede deslizando ate sentar no chão, abraçou suas pernas se encolhendo e simplesmente chorou.
8 comentários:
Gostei daqui...pretendo voltar.
Até.
Interessante a produção e contextualização do blog.
Parabéns!
Abraços.
gostei daqui, gostei do texto é copiado discaradamente o primeiro comentario pretendo voltar.
Conheço muito pouco de Sandman. Prometo que vou procurar saber mais.
Até.
Mais um texto rápido, conciso e enxuto. Mas a carga dramática não se separa. Justamente a falta de detalhes e exageros faz com que ele fique interessante, fique realista.
Marcelo
Como poderia me importar por inspirar você? Isso é muito bom, ganhei o dia (risos).
Sobre o texto... Ficou muito bom mesmo. É o relato dum dia de trabalho de quando a personagem iniciou-se nesta profissão?
Entre a necessidade e o nojo da sujeição. Bom demais!
Quero aprender a fazer textos rápidos, porém repleto de sensações. Você me ensina?
Beijos
Nelson.
parabens ótimo texto.
Maurizio
Então, seguidor Visceral... Agora, todos os domingos eu assinarei uma coluna na revista digital Os Armênios (www.osarmenios.com.br), onde postarei textos e quadrinhos de minha autoria. Se tiver saco também, dê uma conferida no Visceral Literário(www.visceralliterario.blogspot.com), pois eu transferi todos os meus quadrinhos pra lá. Obrigado e até...
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