Dele
O rapaz sentou na areia enquanto seus amigos faziam a já tradicional corrida ate a água, não podia participar, pois fora selecionado pelo azar a cuidar das coisas na areia. Passou os olhos para dar a averiguada nas moças que estavam por perto. Então a viu.
Sua pele era tão branca que quase brilhava ao sol, os cabelos escuros e ondulados lhe caiam ate o meio das costas deixando apenas o lacinho aparecer em meio às madeixas, seu biquíni era liso, num verde militar que ressaltava a cor alva de sua pele e lhe daria uma característica recatada se não fosse o pequeno tamanho das peças. Ela se esticou como se tentasse pegar o sol, o coração dele ate bateu mais rápido, ela se movimentava com graça, como se cada movimento fosse calculado numa dança. Esquadrilhou cada pedaço. Notou cada detalhe: da tatuagem em forma de ramo que saia do pé e subia torcida pelo tornozelo e panturrilha ate a forma como o cabelo se mexia com o vento. E num súbito a garota virou. Cruzaram olhos, sua vontade era desviar o olhar, mas aqueles olhos castanhos o pegaram. E ela não o olhou com aversão, estreitou os olhos e sorriu como se tivesse gostado de ver que ele a tinha notado. O rapaz desmontou ao ver aquele sorriso, se preparou para levantar, porém num susto seus amigos chegaram lhe espirrando respingos de água gelada o tirando do transe. Ele se virou para xinga-los e reclamar, mas assim que olhou de volta foi como se guarda-sóis tivessem se materializado na sua frente. Não a via. Nem conseguia ver buraco naquele aglomerado.
A raiva lhe ferveu o sangue!
Por que não se afogaram?! Por que vieram lhe tirar daquele sonho?! E como era possível alguém sumir assim?
Não conseguia acreditar na sorte e no azar que tivera. Seus amigos começaram a falar sem parar o deixado ainda mais irritado. Queria pensar e achá-la e aquele barulho todo o distraia.
- Vou pegar uma água de coco.
- Aaahhh que isso?! Aqui tem cerveja.
- Não! Água de coco. – se levantou e pode ouvir seus amigos fazendo piadas e agradeceu por isso. Desta forma nenhum deles resolveria segui-lo e assim, quem sabe, poderia encontrá-la.
Chegou ao quiosque e pediu distraidamente a água, virou-se para a praia e seus olhos começaram a varrer o lugar. Ela tinha que estar lá.
Esbarrou o cotovelo em alguém e virou-se rapidamente para se desculpar. Foi como se tivesse caído um raio. Os inconfundíveis olhos castanhos e o sorriso encantador e instigante estavam ao seu lado. Não conseguiu pronunciar uma palavra e ouviu a voz doce dela:
- Olá, estranho.
Dela
Há tempos não sentia o sol. Brincou com os dedos na areia e sentiu a velha cócega que fez tanta falta. Aqueles anos na Suíça por causa dele tinham sido ótimos, mas não havia praia ou sol no mundo como aquele. Era essa sensação que queria sentir. Sentia-se em casa, principalmente agora que estava sozinha, era isso que queria. Isso e uma boa companhia para a noite. Uma não. Uma para cada noite como prometeu para suas amigas. Nada como noites ocupadas para livrar a mente.
Inspirou longamente aquele ar quente e se espreguiçou destravando alguns nós na coluna.
Apesar de tudo o que sofreu com aquela separação era ótimo estar ali.
Sentiu como se alguém a observasse, virou-se e deparou com um par de olhos, um olhar que a tempo não recebia. Sorriu para o rapaz e achou graça de como o desconcertou. Pensou consigo mesma:
- Vamos começar por ele.