A moça chegou em casa ainda com o pôr do sol. Eram raros os dias que aquela iluminação laranja a levava ate a porta e isso a fazia sorrir por dentro, um sorriso que a tempos não aparecia e que sumiu no mesmo momento em que pisou na sala.
A casa estava escura e com aquele cheiro abafado de ter passado o dia todo trancada, porem o que mais a incomodava era a ausência.
Fazia algumas semanas que ele se fora mas se ela fechasse os olhos ainda podia sentir o calor daquele outro corpo, que tantas vezes pareceu ser continuação do dela, espalhado pela sala e o sentimento era reforçado pela pilha de coisas dele ao lado da porta.
A 1º foto juntos, ele bêbado e ela com um cabelo horrível, o quadro do Star Wars, que gerou tantas brigas antes de ser pendurado do lado oposto ao da Audrey Hepburn, o vinil do Ten, que os embalou em varias tardes de domingo, juntamente com uma camiseta desbotada do Ramones, que também estava na pilha. Inúmeras recordações que ela simplesmente não podia jogar fora mas recordações que a faziam perambular pelo cômodo sem rumo, como se ali não fosse mais sua casa e ela tivesse que reencontrar seu canto, seu lugar, seu lar.
Essa angustia a deixava claustrofóbica e num ímpeto abriu a porta balcão que dava para a varanda.
Uma brisa gelada e os raios alaranjados entraram reivindicando o espaço tantas vezes negado pelo pavor que ele tinha de abrir aquela porta e tomar um golpe de ar fatal, igual ao Brás Cubas.
A casa pareceu agradecer a energia do sol devolvendo, por um momento, o sentimento de lar que a moça buscava, ela, como se estivesse renascendo, respirou fundo deixando a ar gelado encher seus pulmões e chicotear seu rosto.
Agora era ela e só ela e por isso a varanda permaneceria aberta.
Um comentário:
ahh conta uma coisa pra mim? ele morreu? rs... ou só se mudou??? (ps: mais um texto gostoso de ler ^^)
Postar um comentário